Marisa Alexandra Batista*
Estava o mês de Novembro quase a chegar. Vinda do Casino Estoril e saída na estação do Cais do Sodré, decidi caminhar a pé até ao Chiado. Gosto de caminhar por aquela zona da cidade. É algo que me faz sentir bem. Chegada ao Largo Camões os homens, ao serviço da Câmara Municipal de Lisboa, já montavam as iluminações de Natal.
Nesse dia fazia muito calor. Mas que ironia esta! Está calor e já se montam as decorações de Natal. Os efeitos do aquecimento global estão aí e o calor continuou por dias a fio, quando sempre me disseram que o Natal acontece nos dias de frio.
Hoje, é véspera de Natal. Passaram-se algumas semanas desde esse dia em que passei pelo Chiado. Continua sol, mas já faz frio. As lojas estão cheias de decorações natalícias e já há uma árvore de Natal na minha sala. Assim como as peúgas penduradas na lareira. Por estes lados, já ninguém acredita em Pai Natal e acho que posso mesmo dizer que já ninguém acredita em coisa alguma.
Contrariando o bom-português comecei a comprar os presentes em Novembro. Escolhi tudo e tive tempo para pensar em todas as alternativas. Comprei uma lembrança para cada uma das pessoas que preenchem a minha vida. Uma prenda, uma única prenda. Porquê? Porque sempre ouvi que o Natal era uma época de reunir a família e de dar uma lembrança.
Hoje, pela manhã, dei uma volta pelo meio bairro. De mala a tiracolo e de anorak vestido, lá fui eu. Os parques de estacionamento das superfícies comerciais estavam lotados e havia trânsito para entrar nestes recintos. Muitos são os que aproveitam a última hora para comprar uma prenda ou, até mesmo, todas as prendas.
No dia 21, deste mês, foi lançada a seguinte notícia: Os portugueses já gastaram 1547 milhões de euros em compras nos 18 primeiros dias de Dezembro. Contas feitas ao segundo dá 29 operações que correspondem a um gasto de 995 euros (por segundo), de acordo com o ‘Semanário Económico’.Tudo isto me parece disparatado. Será preciso gastar o dinheiro do banco, mais o do mealheiro e o plafond de todos os cartões de crédito para mostrarmos aos outros que pensamos neles?
Volto a repetir: hoje, é véspera de Natal e não sinto o espírito. Não tenho vontade de abrir presentes, nem de ir às lojas. Hoje, ficaria satisfeita apenas por me sentar à lareira com a minha família, beber uma chávena de café e ficar a contar histórias ou simplesmente a comentar as coisas que passam na televisão. O Natal precisa deste tipo de magia. Não é preciso dar muito ou pouco. Interessa é que não falte aquilo que falta durante todo o ano, ou seja, o convívio, a amizade, o amor e o carinho.
Sei que posso estar a parecer paternalista, sem pretender sê-lo. Peço-vos apenas para repensarem no que estão a fazer a esta época que se diz ser marcada pela tradição.
A todos vós, um feliz Natal cheio de paz, saúde e alegria.
*Directora